“Obras de enterramento da linha ficam paradas até Março”, titula o Jornal de Notícias, na sua edição de 14 de Janeiro último. “Dificuldades técnicas estarão na origem da suspensão da obra, para repensar a execução da empreitada”, justifica o diário, numa peça assinada pela jornalista Natacha Palma.
Na mesma reportagem, José Mota, presidente da Câmara Municipal, quando confrontado com estes problemas declara, com uma desfaçatez e um desplante dignos da frieza e da solidez do granito, que as obras decorrem dentro da normalidade.
Se o desenrolar das obras tem sido pautado pela normalidade, pergunto o que poderá ser designado por anormalidade?
Será que é do foro da normalidade uma obra desta envergadura e com tamanhas repercussões na vida de todos os cidadãos, espinhenses e não-espinhenses, estar praticamente parada de há muitos meses a esta parte?
Que motivos insondáveis estarão por detrás de afirmações deste quilate?
Porque razão não se fala verdade aos cidadãos, muito em particular, aos espinhenses e silvaldenses que mais sofrem com os avanços e recuos desta obra?
Porque razão não se pauta a actuação autárquica, no que toca a esta - e a todas as outras matérias -, pela transparência? Porque têm medo de falar verdade aos espinhenses? Será esta a “obra do século” ou o “imbróglio do século”?
Porque não se explica aos cidadãos o que está a acontecer e porque está a acontecer?
Será que não está em causa um projecto que interessa aos cidadãos acompanhar a par-e-passo?
Porque motivo não cria esta Assembleia Municipal uma Comissão para Acompanhamento do desenrolar da obra?
Quais as razões pelas quais – fazendo fé nas fontes da jornalista – desde Abril de 2005, a obra em causa, vem sofrendo reduções graduais de pessoal?
Que dificuldades técnicas são estas invocadas para a paragem das obras?
Que implicações têm elas ao nível dos custos da obra?
Que consequências têm elas no que respeita aos prazos estabelecidos para o final das obras?
Assegura a Câmara Municipal que a obra estará concluída no final de 2007, como afiança a Refer?
Se, como a Refer declara, todos os estudos necessários para a avaliação do solo foram feitos atempadamente, como é que é possível que surjam agora dificuldades técnicas? Onde está esse estudo geológico? Como foi realizado? A Câmara Municipal conhece os seus considerados? Não deveriam todos os espinhenses ter tido conhecimento do mesmo?
É comum o povo dizer que “obra que nasce torta, tarde ou nunca se endireita!”. Faço votos para que o provérbio popular não se cumpra e para que a autarquia e a Refer expliquem a todos os cidadãos os meandros de uma obra que, presumo, se pretende seja fruída por todos.
A bem do interesse público e da transparência.
Vítor Calé Solteiro