segunda-feira, março 13, 2006

O "sacrifício" dos lojistas

"Tanto tempo para fazer uma obras destas?", questiona-se José Campos, proprietário de uma ourivesaria a poucos metros da estação ferroviária. Não lamenta os incómodos causados pela obra, nem se queixa que o negócio tenha sofrido com a intervenção. "Há que fazer um pouco de sacrifício", admite. O que não compreende é o tempo despendido. "Um ano e tal é muito, se fosse noutro país já estava pronto", sentencia. Óscar Lopes, dono de uma loja de artigos diversos, defende que o dinheiro poderia ser canalizado para outros projectos. Por exemplo, para "um hospital com melhores condições". "Eles dizem que a obra é importante, mas tinham mais onde gastar o dinheiro", defende. "A linha estava muito bem, era tradicional, mas eles é que sabem, eles é que mandam", conclui.

(in Público, 13 Março 2006 / sem ligação)

Moradores temem que obra da linha férrea de Espinho transforme Bairro da Marinha num gueto

Movimento defende mais 400 metros de túnel para enterrar a linha férrea. Câmara rejeita solução e rebate tese de isolamento

Há um ano, os moradores do Bairro da Marinha, freguesia de Silvalde, Espinho, manifestavam o seu descontentamento pelo início das obras de enterramento da linha férrea. Os habitantes estavam insatisfeitos com a colocação dos taipais. Um ano depois, a crítica sobe de tom e vem acompanhada do receio do isolamento a que o projecto poderá condenar o aglomerado habitacional. Na impossibilidade de ver vingar uma proposta alternativa para o túnel, a população teme que o bairro possa vir a transformar-se num gueto.

O Movimento Pró Enterramento da Linha Férrea na Marinha de Silvalde (Mopelim), criado na altura do protesto, não tem dúvidas. Samuel Pereira, um dos elementos do grupo, refere que a anunciada construção de um muro, com uma altura de 1,5 metros de betão mais três de protecção acrílica, vai isolar o bairro e prejudicar cerca de cinco mil habitantes. "Com o muro a nascente e o mar a poente, um muro a sul do clube de golfe e a fundação de arte e cultura a norte, ficaremos emparedados", refere. "O Bairro da Marinha ficará isolado, ficaremos "guetizados"", reforça.

Perante o cenário, o responsável antevê desde já um futuro cinzento. "O comércio desaparecerá daqui, os cafés, supermercados, restaurantes. O turismo também. Deixaremos de ter acesso ao centro da freguesia, à igreja, às escolas. Assistiremos a uma desvalorização dos imóveis". "Haverá um empobrecimento de toda a zona", garante.

Segundo Samuel Pereira, os comboios passarão na zona do Bairro da Marinha em vala, ou seja, já em descida para entrar no túnel, erguendo-se um muro de cerca de 4,5 metros de altura a separar a linha férrea da comunidade piscatória. Uma solução que desagrada ao elemento do Mopelim, que avança uma alternativa. "Mais 400 metros de túnel", defende. Desta forma, a linha ficaria enterrada na parte que abrange a Marinha e não prejudicaria a população. "Não podemos acreditar que, como disse o senhor José Mota [presidente da Câmara de Espinho], o prolongamento do túnel em 400 metros custe mais 125 milhões de euros", aponta.

Entretanto, o Mopelim já ouviu falar na construção de duas passagens inferiores, mas não se mostra convencido. "Queremos ver isso no papel", reclama Samuel Pereira. "A única coisa que queremos é que a zona da Marinha não seja prejudicada em relação à zona urbana de Espinho", destaca.

Conclusão da empreitada prevista para 2007
O descontentamento estende-se ainda ao novo figurino da Avenida de João de Deus, paralela à linha férrea. "Tinha 12 metros de largura e está com quatro, como irá ficar. A avenida deixa de ser uma avenida e passa a ser uma ruela", critica. As perguntas surgem, por conseguinte, em catadupa. "Quem autorizou a câmara a "vender" a Avenida de João de Deus à Refer?". "A população foi ouvida?". "Onde estão os estudos de impacte ambiental?". "Onde estão os projectos alternativos?".

O vice-presidente da Câmara de Espinho, Rolando Sousa, adianta que prolongar o enterramento da via férrea em mais 400 metros "poderá ser viável do ponto de vista técnico, mas inviável do ponto de vista financeiro". Tudo porque, adianta, "seria necessário fazer um outro projecto", com tudo o que isso implica. Além disso, sustenta, o túnel teria de passar por uma linha de água, ou seja, pela ribeira de Silvalde. "O que poderia trazer alguns problemas de carácter ambiental", alerta.

O autarca rejeita, contudo, que o Bairro da Marinha fique isolado. "Existirão duas passagens inferiores, uma para carros e outra para peões", aduz. E acrescenta: "A linha férrea não vai poder ser atravessada em qualquer ponto, como hoje acontece, mas isso iria acontecer com o projecto de supressão das passagens de nível sem guarda".

Segundo as últimas previsões, o enterramento da via férrea em Espinho, que envolve um investimento de cerca de 60 milhões de euros, estará concluído no final de 2007. O PÚBLICO tentou, sem sucesso, contactar com o presidente da Câmara de Espinho, José Mota.

(in Público, 13 Março 2006 / sem ligação)

sábado, março 04, 2006

Enterramentos e Desenterramentos (parte III)

iniciar aqui: parte I / parte II

Para finalizar esta sequela de textos sobre o decurso da Assembleia Extraordinária, não se pode passar incólume sobre o pormenor, que no caso toma dimensões de por maior, avançando publicamente que o almejado prolongamento do enterramento da linha férrea acarretaria um acréscimo nos custos no valor de 25 milhões de contos! A que se somaria o valor da obra actual, avaliada entre 12 a 15 milhões de contos, no total, então de 37 a 40 milhões de contos.

Mais uma vez, o sr. Presidente tem de explicar esta fuga para a frente, tentando a todo o custo silenciar os que pensam e admitem um projecto diferente, através das mais baixas manobras, lançando publicamente um valor sem qualquer sustentabilidade assente em qualquer tipo de análise, quer técnica, quer financeira. Está claro, sr. Presidente, que ninguém acredita nos valores que indicou! Ainda mais quando tem a desfaçatez de, posteriormente num outro momento, ‘esclarecer’ que o valor advém de cálculos efectuados pelo próprio, contando com a ajuda de técnicos da REFER.

De novo, o problema é que se partiu de uma base errada. Partiu-se de uma situação em que nunca se tiveram verdadeiramente em conta as diferentes alternativas que se colocavam, nem nunca foram consideradas variantes aos projectos, nem realizados os respectivos estudos de custos/benefícios associados a cada alternativa em causa.

Convém relembrar que esta análise custos/benefícios deveria ter tido em conta não só os aspectos técnicos e financeiros imediatos, mas também os custos de oportunidade de realização inerentes a cada uma das alternativas. Só desta maneira seria possível pesar e quantificar, na medida do possível, os efeitos positivos e nocivos associados a cada eventual proposta, quer do ponto de vista físico, quer do ponto de vista da facilitação ou dificultação do maior ou menor desenvolvimento das dinâmicas sociais e humanas, e do desenvolvimento urbano da área envolvente.

Ou seja, ainda que o prolongamento possa sair ‘mais caro’ do ponto de vista estritamente financeiro e contabilístico da execução física da obra em si, esses custos poderão ser inferiores aos custos não contabilizados no âmbito do projecto actual, e que se referem aos seus efeitos negativos, à necessidade de obras complementares para diminuir tais efeitos, e aos enormes e gravíssimos custos sociais, não avalizados nem internalizados no custo do actual projecto, referentes à repartição e incremento do isolamento de partes de cidade, e aos custos sociais correspondentes. Isto é, não se está a ter em conta o facto de não se estar a construir cidade, a interligação e intercomunicabilidade entre as suas diferentes áreas integrantes, mas antes o processo oposto à construção de cidade.

Chegados aqui, neste actual processo, atingiu-se uns tais sentimentos de descrédito que mesmo que agora surjam todos e quaisquer estudos, estes serão sempre alvo da maior suspeita. Não é caso para menos. Se até ao momento a dificuldade foi enorme em justificar prontamente e autenticamente o projecto em curso em detrimento de outras opções, o mais certo é acontecer que, como é hábito, surjam precisamente os documentos certos.

Relembro aqui a magnífica série ‘Yes, Minister / Sim, Sr. Ministro’, em que a episódio tantos o dedicado ‘public servant’ sir Humphrey Appleby se dirige ao Ministro indicando-lhe que para obter os ‘resultados certos’ da realização de determinados estudos e avaliações, o que teria de fazer era acertadamente contratar as ‘pessoas certas’.

Mas desta Assembleia há claramente uma grande conclusão a reter. É a de que este projecto se tornou mais importante para o sr. Presidente do que para Espinho e para os espinhenses. Chamando a si um processo que, inicialmente, julgava mais acessível do que o que se veio a revelar, viu-se depois embrenhado num processo de ramificações e de necessidades discutíveis, comprometendo-se de tal forma, mesmo a nível individual, com o resultado final, que não teve outro remédio que não fosse empenhar-se a fundo, e ao fim e ao cabo, perante a dificuldade viu-se obrigado a aceitar o que lhe deram, mesmo que não servisse os interesses de Espinho. Mas servia os seus interesses. É que rejeitar este enterramento lhe custaria muito caro politicamente, sabendo que todos lhe cobrariam a falha de não ter conseguido. Mais do que a questão do enterramento, era a questão da sua afirmação / confirmação política. Foi isto que o sr. José Mota, Presidente da Câmara Municipal de Espinho disse na sua longa intervenção na noite de quinta-feira em que se realizou a malfadada reunião.

Sr. Presidente da Câmara, o desenvolvimento de Espinho é mais importante do que o futuro imediato e particular de que qualquer um de nós!

Tito Miguel Pereira

(in Defesa de Espinho, 02 Março 2006 / sem edição online)

sexta-feira, março 03, 2006

A invasão do marketing / denúncia de João Paulo Meneses

'A invasão do marketing' foi como o jornalista João Paulo Meneses intitulou a sua denúncia, há um ano atrás (3 de Março de 2005), de uma 'notícia' paga (?) pela Câmara de Espinho no Jornal 'O Comércio do Porto' (entretanto encerrado):

citação:

A invasão do marketing
A página 5 de O Comércio do Porto de hoje apresenta um caso a merecer atenção:
publica como publicidade (?) (paga?), em meia página, uma notícia intitulada "Administrador da Refer visita obras de enterramento da linha férrea em Espinho".
O texto em causa está assinado, mas no final aparece a enigmática expressão "Comunicado de Imprensa". Tirando isso e o tipo de letra usado, é uma notícia igual às outras (nem sequer aparece o habitual "Especial" ou "publireportagem"). Mas, na verdade, não o é!
O que espanta neste caso em concreto é por que é que a Câmara de Espinho pagou (?) por uma notícia que seria notícia de qualquer forma (é-o no JN de hoje, pág. 26)!

fim de citação

ligação:
http://ouve-se.blogspot.com/2005/03/invaso-do-marketing.html

a notícia no Jornal de Notícias de 03 Março 2005:
clicar aqui